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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

Luzes brilhando sobre o saxofone

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Quem me roubou a minha dor antiga, E só a vida me deixou por dor ? Quem, entre o incêndio da alma em que o ser periga, Me deixou só no fogo e no torpor ? Quem fez a fantasia minha amiga, Negando o fruto e emurchecendo a flor ? Ninguém ou o Fado, e a fantasia siga A seu infiel e irreal sabor... Quem me dispôs para o que não pudesse ? Quem me fadou para o que não conheço Na teia do real que ninguém tece ? Quem me arrancou ao sonho que me odiava E me deu só a vida em que me esqueço, "Onde a minha saudade a cor se trava ?" Sobre a mesa, ao lado de um monte de papéis que pareciam prontos para ir ao lixo, Natália encontra um poema que parece-lhe talhar o difícil retrato de si mesma que tenta desenhar a muito tempo. Ela que costumava fazer sua alma chegar nos lugares antes de si mesma e a mostrar-se tão por inteiro. Percebia a perplexidade dos outros perante sua própria agudeza. O convívio com música que a fizera entregar sua vida ao instante mais viceral de todos, ao presente.